SOCORRO!
Segunda-Feira, dia 28 de março de 2011, meu filho, Mateus Lima Santana Freitas de 11 anos foi agredido durante a aula de Educação Física por seis colegas da mesma turma e mesma faixa etária na escola onde estuda - Fundação Baiana de Engenharia no Imbuí.
Era início da aula de Educação Física e o professor ainda não havia chegado à quadra. Ou seja, os alunos do 6º ano B, estavam sozinhos.
Meu filho brincava na trave de futebol quando ficou preso na rede. Imediatamente um colega, que por ser menor não é possível divulgar o nome, se dirigiu à ele dizendo: “É mole, é mole. Ficou preso!” E começou a agredi-lo. Outros cinco colegas que presenciaram o ocorrido, no lugar de se posicionar contrários à situação, juntaram-se ao primeiro agressor e deram socos, pontapés, chutes em Mateus, que permanecia preso à rede da trave sem conseguir se defender ou soltar-se.
Não estavam eles na rua, na periferia, na escola pública, no meio de uma briga, nem em qualquer outro espaço que muitas pessoas usam para justificar a violência e a insegurança. Meu filho era linchado pelos colegas de turma em pleno horário de aula dentro de uma escola particular de bairro de classe média. Isso não minimiza nem amplia o fato. É agressão do mesmo modo.
Após o espancamento, os agressores, subiram num palco e em voz alta o chamavam de “otário que não bate em ninguém”.
Ao consegui soltar-se, ele chorando, com raiva, parte correndo para cima dos agressores, alcança dois deles, quando o professor de Educação Física chega e o surpreende ‘agredindo o colega’. Vão os três para direção. Os outros, responsáveis também pelo linchamento permanecem na aula.
Ele conta o ocorrido à coordenação e os dois dos colegas que o agrediram confirmam a versão dos fatos. E a escola? Nada. Nem uma comunicação à família, nem um primeiro atendimento já que Mateus havia levado muita pancada. Minimizou. Era uma “brincadeira de pré-adolescentes”.
Sou informado do ocorrido pelo próprio Mateus que reclama de dores no corpo e de cabeça. Resolvo levá-lo ao hospital, visto que, aquilo que não está aparentemente visível pode se configurar em algo bem grave internamente, muitas vezes.
Chegando á emergência ortopédica da SOMED, após alguns exames locais e radiografias, o médio identifica que há escoriações na cervical e prescreve antiinflamatório e o colar cervical imobilizador. Uso contínuo por cinco dias. E tudo era só uma brincadeira...
Procuro a escola cheia de indignação, questionamento e ódio. Sim, seria hipócrita se não dissesse que meu sentimento era de dor junto com meu filho e ódio dos agressores, dos seus pais e da escola. Sim, pois a violência não é um fenômeno simples, mas complexo. É composta de muitas variáveis, mas se fortalece às vezes, apenas por algumas. Mas, mais que ódio eu queria ação e respostas:
- Por que uma turma de garotos de 11 anos fica por um tempo sem nenhum adulto por perto acompanhando?
- Por que eu, responsável pelo garoto agredido, não fui informada, notificada pela escola do fato e convidada a ir à escola para uma conversa sobre o fato?
- Mesmo após a confusão, com sangue quente e sem ter reclamado de dores, por que a escola não deu os primeiros socorros ao meu filho? Ou mesmo, ligou imediatamente ao responsável, anunciando o fato e solicitando encaminhamento médico?
- Por que os pais dos agressores, assim como eu, não estavam lá no dia seguinte ao ocorrido para serem notificados, chamados à atenção e serem informados das medidas corretivas ou punitivas, como queiram chamar?
- Por que não houve nenhum tipo de punição para os alunos num caso de agressão gratuita e tão covarde?
- Qual ação preventiva a escola pode tomar para que situações semelhantes não aconteçam?
- Como os responsáveis dos agressores agem e reagem em situações como essas?
São muitas as questões e as indignações. A escola garantiu que os pais seriam chamados e que haveria uma conversa. É pouco. Muito pouco!
Foram só escoriações. Falo só, pois poderia ser pior: um chute nos olhos que afetasse a visão, uma pancada maior que implicasse em comprometimento da coluna ou vértebra que perfurasse um órgão, ou fatal, se a cabeça tivesse sofrido algum tipo de trauma. Não era só brincadeira. Aliás, não era brincadeira. Brincadeira de bater pode ser feita no videogame, onde é possível realizar catarse das emoções contidas sem machucar ninguém. Essas crianças precisam ser punidas, não com agressão de nenhuma ordem, mas por meio de ações educativas e orientações dos pais.
Após a minha visita, a coordenadora dirigiu-se à turma para falar da violência. Nenhum pedido de desculpas. Aliás, um dos agressores, vangloriava-se nos corredores de ter batido tão forte que Mateus estava com o pescoço machucado (não sabendo ele que era a cervical).
Minimizar os fatos, tratar todos de forma banal e normal são males da Educação. Não sei se foi esse o caso. Afinal, espero ainda ações da escola. Nossas instituições de ensino estão cheias de violência em todas as esferas. Não há escala para violência, em minha opinião. Agressão é agressão e tem que ser punida como tal.
Garotos que se juntam para agredir um colega, um companheiro de turma e sentem prazer com isso, não são diferentes dos que agrediram mendigo em São Paulo ou tocaram fogo no índio em Brasília. São apenas, ainda, garotos e covardes.